Cabalá e a Dinâmica do Tempo
O conceito de receber tem como princípio que tudo o que necessitamos está disponível neste exato momento, mas nós, na maioria das vezes, nos encontramos fechados para receber determinadas bênçãos.
E aí, se parte do processo depende do refinamento pessoal, outra parte depende de saber aproveitar o momento certo para cada projeto de vida.
O milagre não acontece sem entendimento e entendimento requer refinamento
Uma coisa de grande importância para a Cabalá é a consciência da dinâmica do tempo, embora poucas pessoas dêem atenção a isso.
Um dos maiores eventos da história da tradição judaica, por exemplo, foi orientado por este tipo de consciência:
Moshé (Moisés), numa lua cheia de Nissan (Março-Abril), se depara com a sarça ardente e, sete dias depois, é finalmente convencido a liderar a retirada de todos os hebreus do Egito. Entre os seus, leva quase seis meses para que acreditem nele e no que D-us estava lhes reservando.
Mas aí, quando estavam todos prontos (e motivados!) para partir, em Tishrei (Setembro-Outubro), Moshé informa que eles só começarão a se mobilizar em Nissan.
Você consegue imaginar uma situação como essa?
Conseguir injetar entusiasmo numa multidão como aquela e depois pedir para mais 6 meses de espera?
Moshé não era um homem comum.
Mesmo correndo o risco de perder o que construiu arduamente ao longo dos últimos meses, ele conhecia a dinâmica do tempo e sabia que somente em Nissan esse desafio seria bem sucedido porque a energia de Taleh (o mazal (sorte, fortuna) de Áries) os favoreceria.
Isto acrescenta, entre outras coisas, que se entendemos corretamente a dinâmica do tempo eliminamos a energia da ansiedade, um dos grandes males da humanidade, que reflete exatamente esta falta de sintonia entre o homem e o tempo: a pressa em recolher a fruta ainda verde ou de plantar fora da estação apropriada.
Quando falamos de "Astrologia Cabalística" estamos longe de tentar traçar perfis psicológicos, compatibilidades e predições de acordo com o movimento dos astros.
Quem faz isso usando o nome da Cabalá apenas, demonstra o seu desconhecimento a respeito do assunto.
A palavra hebraica para "signo" é mazal (também usada para "sorte"), e, correlata a ela, temos nazal, que significa "fluir" ou "derramar".
O calendário judaico está alinhado com a dimensão do tempo em Olam HaYetzirá, o Mundo da Formação, que também equivale ao nível do Ruach (o corpo emocional) na Árvore da Vida.
Quando informamos que Av ( Julho-Agosto) é regido pelo mazal de Aryeh (Leão), isto é o indício de um determinado padrão que estará em ação até a próxima lua nova, influenciando direta ou indiretamente as nossas decisões, pois é a energia que está sendo "derramada" sobre nós do Mundo Espiritual.
Se você desconhece as oportunidades e desafios do período, fica como um barco sem remos, motor ou vela no meio do oceano, entregue à própria sorte.
Por outro lado, se você possui este conhecimento e sabe quais as conexões complementares para o período, aumentam as suas chances de "fluir" sem maiores problemas para um porto seguro.
Em paralelo à prática das mitsvót ("conexões") regulares e ao desenvolvimento de uma atitude mais proativa no mundo, precisamos entender o real significado da energia de cada mês (o palco em que estaremos atuando), a mensagem passada pela combinação das letras hebraicas (as chaves para acessarmos os níveis mais elevados do padrão regente), o ensinamento deixado por cada Tribo de Israel (como agir ao longo do período) e as conexões disponíveis no dia-a-dia, independente das grandes festividades (as oportunidades que podem ser captadas e as armadilhas que podem ser evitadas).