Muitas vezes, aspectos ligados a atitude são mais valorizados que os conhecimentos, afirma especialista.
A primeira preocupação de quem procura um emprego é com o currículo. E ter boas experiências, cursos de formação complementar e domínio de línguas estrangeiras são, realmente, coisas importantes na hora de lutar por um espaço no mercado de trabalho. Mas isso não é tudo.
O Portal Administradores entrevistou Marisa Silva, da Career Center, consultoria especializada em gestão de Recursos Humanos, que fala sobre o que é e o que não é relevante para a conquista de um lugar no mercado.
Administradores - As experiências do período da faculdade (como estágios, congressos, encontros, seminários etc.) são relevantes no mercado profissional? Para as empresas, qual o grau de relevância dessas experiências?
Marisa Silva - O mercado de trabalho valoriza, para quem está no início da carreira, todas as experiências, pois estas também permitem desenvolver competências, habilidades e maturidade em especial - no sentido de ter recursos para enfrentar desafios/frustrações e se recuperar mais rapidamente ao lidar com as adversidades do mundo corporativo. Muitas vezes, aspectos ligados a atitude (personalidade) são mais valorizados que os conhecimentos, pois as empresas vivem em transformações e as coisas nem sempre acontecem na velocidade que desejamos.
A geração Y, mais rápida e com mais pressa em conquistar projetos ou cargos maiores nas empresas, tendem a se frustrar mais rapidamente também quando percebem que a empresa não tem a velocidade sonhada.
Conhecimento é importante, mas saber e ter condições para entender a cultura da empresa na qual o jovem vai trabalhar também é um ponto muito valorizado nas entrevistas. Nesse sentido é importante o jovem tirar o máximo de informações das empresas onde pretende trabalhar. Se o jovem tiver um perfil mais ambicioso, for rápido, tem que buscar uma empresa com seu perfil. Se for mais tranquilo e tiver uma ambição média, deve buscar empresas mais estáveis, por exemplo.
Qual a importância da formação continuada? Isso é realmente levado em conta pelas empresas?
É muito importante estar bem informado/atualizado, mas acima de tudo é importante desempenhar e fazer além do que é esperado do cargo. Existem profissionais que dão mais atenção ao estudo e menos às entregas/realizações na empresa. Ao ser comparado com outros profissionais que estão no mesmo estágio da carreira e com histórico maior de realizações (fazer além do esperado), poderá ser preterido. O contrário também é verdadeiro. Pessoas que só entregam e não se atualizam podem também ser preteridos por outros que tem um curso mais sofisticado. Tudo é questão de equilíbrio - performar e atualizar.
O que vale mais a pena: ter no currículo passagens por várias empresas diferentes ou ter uma experiência mais longa em um único lugar?
Os estágios contribuem para o jovem experimentar e se identificar com uma possível área de atuação futura. Se a passagem for curta e ele não deixar alguma marca, ou seja, algo diferente (por exemplo: melhoria de um processo, organização de alguma coisa, criação de uma planilha de controle que não existia, melhor atendimento a um cliente importante, etc.), pode não ser tão diferenciado para o mercado, mas é bom para o profissional. Já quem permanece por muito tempo em uma empresa fazendo a mesma coisa, não tendo evidências de iniciativas tomadas, ações para fazer alguma diferença, o currículo também pode não ser atrativo.
Resumindo: é importante, na experiência, sempre procurar contribuir de forma diferente, respeitando o gestor imediato, entendendo qual é o papel e o que é esperado. Em cima disso, procure fazer a diferença contribuindo para melhoria da sua área de atuação. Pequenos gestos podem repercutir de forma muito positiva.
Mudar de emprego várias vezes sem ascender na carreira pode "pegar mal" no currículo?
Se as saídas das empresas partirem do profissional, eu diria que mudar de emprego várias vezes não permite tempo para fazer muita coisa diferente na empresa. Levamos mais ou menos quatro meses para entender uma empresa. Depois mais um tempo para poder contribuir de forma diferenciada. Se a pessoa ficar de seis meses a um ano em cada empresa e não apresentar nada além das atribuições do cargo (atividades obrigatórias do cargo), o currículo pode não ser tão atraente em comparação com outros candidatos mais estáveis e com maior histórico de realizações. Muitas vezes título/cargo não é sinônimo de bom desempenho. Sempre avaliamos cargo, tempo na empresa, resultados, contribuições, o que fez diferente, o que aprendeu, complexidade das atividades desempenhadas, etc.
O que mais deve ser levado em conta para se ter um bom currículo? Quais as principais dicas?
Boa formação, fluência em um idioma no mínimo, atualização em relação ao mercado no qual o profissional atua, histórico de realizações (que não precisam ser complexas, mas que dão ideia de que quer fazer a diferença). Se o profissional for mais ambicioso, pode mapear empresas alvo de destaque e procurar atuar em empresas que são referências no mercado, por exemplo.