Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto.
Entre a minha vista e o meu coração estabeleceu-se um acordo, E agora cada qual faz ao outro um favor: Quando meu olho está faminto por um olhar Ou o coração almejando amar com suspiros que ele mesmo abafa, Com o retrato do meu amor, então a minha visão entra em festa, E ao banquete esboçado convida o coração: De outra feita, o meu olho é o hospede do coração, E em seus pensamentos de amor colabora: Assim, quer seja por teu retrato, ou por meu amor, Estás mesmo longe, presente sempre ainda comigo: Pois não estás mais distante que ao alcance dos meus pensamentos, E eu estou unido com eles, e eles contigo; Ou se eles dormem, teu retrato na minha vista Desperta o meu coração para alegria de vista e coração. |